Brasil: Uma História Preta e Indígena
Durante dois anos consecutivos, o Tema Provocador de Experiências Investigativas da CASA de Aprendizagens foi: “Brasil: Uma História Preta e Indígena”. Ao longo desse período, toda a comunidade escolar viveu um processo de profundas e contínuas reflexões. Nesse sentido, importantes mudanças foram geradas em nossa escola, no sentido de uma educação cada vez mais plural, que abarque diferentes e múltiplas perspectivas.
Ao iniciarmos o ano letivo de 2022 com a proposta de um novo tema a ser investigado, uma questão se apontava: Como darmos continuidade ao currículo antirracista e decolonial? Enquanto uma pauta que entendemos urgente e emergente, queríamos reafirmar as descobertas provocadas no decorrer desses dois anos de pesquisa.
Primeiramente, é certa, para nós, a necessidade de se desconstruir o pensamento dominante, eurocêntrico e racista. Por outro lado, essa prática crítica tem de ser trabalhada na cotidianidade escolar, ou seja, construída no dia a dia dos estudantes. Para tanto, ela deve atravessar as diferentes áreas do conhecimento e tomar o chão da escola. A cultura PRETA e INDÍGENA precisa ser viva e vivida pelas crianças e pelos jovens.
A cultura Borari
Nessa direção, muitas ações da CASA de Aprendizagens têm sido pensadas com vistas a presentificar – tornar um hábito escolar – as culturais brasileiras de matriz africana e indígena. Como a visita do educador e pedagogo Édrio Pedroso, indígena da etnia Borari. Divididos entre a Vila Alter do Chão, distrito do município de Santarém, e as margens do Maró-Arapiuns, no oeste do Pará, os Borari tem uma população atual de aproximadamente 1.100 indígenas.
Édrio Pedroso partilhou alguns aspectos de sua cultura e projetou imagens de artes indígenas para a visualização das crianças. Além da roda de conversa, em que os estudantes ouviram atentos as histórias do povo Borari e expressaram suas curiosidades, eles puderam experimentar certas brincadeiras indígenas. Porém, o que mais encantou nossas crianças foi o ritmo do Carimbó!
O Carimbó
A palavra “carimbó” é de origem indígena: do tupi, korimbó (pau que produz som) resulta da junção dos elementos curi, que significa “pau”, e mbó, que significa “furado”. O nome faz referência ao curimbó, principal instrumento musical utilizado nessa manifestação cultural. Além do curimbó, o ritmo do Carimbó é composto pelo: afoxé, banjo, flauta, ganzá, maracá, pandeiro e reco-reco.
O Carimbó do Pará foi trazido ao Brasil pelos africanos escravizados e posteriormente, foram a ele incorporadas influências indígenas e europeias. Depois de dez anos de inventário, o carimbó foi declarado em 2014 (por unanimidade) no Conselho Consultivo do Patrimônio Cultural como Patrimônio Cultural Imaterial do Brasil.
Outro fato interessante sobre o Carimbó é que, no Pará, em 26 de agosto é comemorado o Dia Municipal do Carimbó. Pois essa é a data de nascimento do Mestre Verequete, músico que ficou conhecido como Rei do Carimbó.
A vivência com Édrio Pedroso
Na vivência do Carimbó, as crianças da CASA de Aprendizagens experienciaram em seus corpos, os elementos próprios a essa manifestação cultural. Entre eles, o dançar em roda, o jogo entre pares e os movimentos giratórios divertiram os estudantes e lhes possibilitaram o conhecimento de novos códigos de expressão corporal.
Também as vestimentas do Carimbó são características, como as saias coloridas e rodadas das mulheres ou os chapéus dos homens. Tais trajes, que além de embelezar certos movimentos do Carimbó, ajudam a compor alguns passos da dança, não ficaram de fora dessa experiência.
Acreditamos assim que nossas crianças, desde a mais tenra idade, tenham suas memórias afetivas construídas na diversidade, no respeito e no amor. Por meio de vivências como essa, que visam valorizar nossas matrizes culturais, buscamos crirar pontes para a formação de uma cidadania integral.
Agradecemos imensamente a Édrio Pedroso, que tornou nossa escola mais viva, mais cheia de cores, saberes e encantamento. Partilhando seus saberes, contribuiu com o nosso projeto de uma educação antirracista e decolonial.
Viva Édrio Eriel Borarí! Viva as culturas PRETA e INDÍGENA!